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A situação na Grécia e o papel antipopular do SYRIZA
– As responsabilidades dos que o aplaudem
por Giorgos Marinos [*]
Membro do Buró Politico do Comité Central do KKE
Na segunda-feira 13 de Julho, o governo SYRIZA-ANEL, com o apoio de todos os partidos políticos burgueses, acordou na Cimeira da Eurozona com um pacote muito duro de medidas antipopulares, um terceiro memorando, o qual destruirá todos os direitos dos trabalhadores e do povo que ainda restam.
Na quarta-feira 15 de Julho, o "primeiro governo de esquerda" aprovou, com os votos dos partidos burgueses ND-PASOK-POTAMI, o acordo da Cimeira e o primeiro pacote de medidas a serem implementadas para a concretização do 3º memorando incluindo novas medidas selvagens de tributação e a abolição de direitos à pensão. O KKE votou contra isto e pediu uma votação nominal, durante a qual 32 quadros do SYRIZA votaram NÃO, 6 votaram "presente" e houve também 1 abstenção. Estes disseram que "votamos contra o novo memorando, mas ... apoiamos de todo o coração o governo que está a por isto sobre a mesa".
A experiência dos cinco meses de governação SYRIZA demonstra que ele não quer nem foi capaz de preparar o povo para confrontar o memorando e os monopólios, tanto gregos como europeus, precisamente porque não tinha orientação para a resistência e o conflito. Ao contrário, enganou o povo dizendo que podia abrir o caminho a mudanças favoráveis ao povo dentro da aliança predatória da UE.
Estes desenvolvimentos são uma expressão muito clara do fracasso da chamada "esquerda renovada" ou "esquerda governamental", da teoria de que a UE pode mudar seu carácter monopolista e antipopular.
A linha de luta do KKE e sua posição vigorosa e firme, que rejeitou a participação em tais governos "de esquerda" que na verdade são governos de gestão burguesa, foi confirmada.
Na base desta experiência específica e ultrapassando a ofensiva dos médios de comunicação social burgueses, os trabalhadores da Europa e de todo o mundo devem tentar descobrir a verdade e utilizar os acontecimentos na Grécia para retirar conclusões úteis.
Eles deveriam examinar e estudar a linha de luta do KKE, romper a muralha da desinformação das forças burguesas e oportunistas que vivem no seu próprio mundo da gestão da barbárie capitalista e trabalham sistematicamente a fim de manipular os trabalhadores.
QUAL É A SITUAÇÃO REAL NA GRÉCIA? QUAL É O PAPEL REAL DO SYRIZA? QUAIS SÃO AS RESPONSABILIDADES DOS QUE O APLAUDEM?
Primeiramente, durante a crise capitalista, com as consequências penosas que a linha política anti-povo do partido liberal ND e do partido social-democrata PASOK trouxeram à classe trabalhadora e às camadas, começou uma reforma extensa do sistema político burguês.
Os partidos burgueses tradicionais estavam enfraquecidos e exaustos, e o SYRIZA e a organização criminosa nazi "Aurora Dourada" foram fortalecidos.
O SYRIZA, que era um pequeno partido oportunista, rapidamente aumentou sua votação nas eleições de Junho de 2012 e venceu as eleições de Janeiro de 2015, constituindo um governo com o partido da direita nacionalista ANEL.
Ao longo deste período o SYRIZA encurralou os trabalhadores no falso esquema "memorando – anti-memorando", ocultando o facto de que o memorando faz parte da estratégia mais geral do capital. Ele explorou o agravamento dos problemas do povo e fez promessas falsas de que aliviaria a situação dos trabalhadores e satisfaria suas reivindicações.
Neste quadro, o SYRIZA prometeu que aumentaria de imediato o salário mínimo, restauraria os acordos de negociação colectiva, aboliria o imposto sobre a propriedade, aumentaria o patamar de isenção fiscal, poria fim às privatizações, etc.
Apesar dos slogans que utilizou, na prática o SYRIZA construiu uma estratégia social-democrata e deixou claro desde o princípio que administraria o capitalismo e serviria a competitividade e rentabilidade dos grupos monopolistas, implementando a estratégia da UE, à qual chamava de "nosso lar europeu comum".
Segundo. Após as eleições de 2015, o governo SYRIZA-ANEL continuou a linha política anti-povo dos governos anteriores. No dia 20 de Fevereiro assinou um acordo com a UE-BCE-FMI (Troika) e assumiu compromissos quanto ao reconhecimento e reembolso da dívida que não foi criada pelo povo, a "rejeição de acções unilaterais", a não implementação das suas promessas eleitorais e a promoção de "reestruturações capitalistas".
O governo SYRIZA-ANEL, durante as negociações que se seguiram em Bruxelas, apresentou uma série de propostas com duras medidas anti-povo, incluindo:
A manutenção dos memorandos e de todas as leis de aplicação do ND e do PASOK, a imposição de tributação adicional, a demolição de direitos de pensão, privatizações e outras medidas no valor de 8 mil milhões de euros a expensas do povo. Esta proposta era semelhante àquela da Troika, a qual continha medidas anti-povo no valor de 8,5 mil milhões de euros.
As confrontações nas negociações e a retirada do governo SYRIZA-ANEL numa certa fase não estão relacionadas com resistência para a defesa dos interesses do povo, como alguns partidos no estrangeiro afirmaram sem qualquer base.
Eram os interesses dos monopólios que estavam na mesa das negociações e, sobre esta base, manifestavam-se contradições mais gerais relativas à fórmula para a gestão do capitalismo, o rumo da Eurozona e a posição da Grécia nela (incluindo a possibilidade de um Grexit), as contradições sobre hegemonia na Europa entre a Alemanha e a França, entre os EUA e a Eurozona e em particular a Alemanha.
Terceiro. Nestas condições, no sábado 27 de Junho o governo apresentou ao Parlamento uma proposta para um referendo, tentando armar uma cilada para o povo com um SIM ou NÃO ao pacote de medidas anti-povo da Troika, recusando-se a apresentar a sua própria proposta anti-povo a fim de ser julgada pelo povo.
O KKE (no parlamento) pediu que no referendo fosse colocado o seguinte:
A) A proposta da Troika.
B) A proposta do governo
C) A proposta do KKE para "DESLIGAMENTO DA UE, ABOLIÇÃO DO MEMORANDO E DE TODAS AS LEIS DE APLICAÇÃO ANTI-POVO".
O governo arbitrariamente recusou-se a colocar a proposta do KKE em votação. Seu objectivo era chantagear o povo e explorar a votação popular como aprovação à sua própria proposta que constituía um novo memorando.
O KKE resistiu, denunciou a chantagem e apresentou o seu próprio boletim de voto ao julgamento do povo:
"NÃO À PROPOSTA UE-BCE-FMI.
NÃO À PROPOSTA DO GOVERNO.
DESLIGAMENTO DA UE COM O POVO NO PODER".
Este boletim de voto foi distribuído nos lugares de trabalho, nos bairros populares, junto aos centros de votação no dia do referendo, e ao mesmo tempo o KKE conclamava o povo a resistir de todas as maneiras e exprimir sua oposição ao novo memorando.
Nas condições deste falso dilema e desta chantagem, o KKE explicou ao povo que tanto o SIM como o NÃO seriam utilizados para impor novas medidas anti-povo.
Esta decisão é uma grande herança deixada ao nosso povo para que possa continuar sua luta com base nos seus próprios interesses.
Uma secção significativa do nosso povo resistiu. Lançou na urna o boletim de voto do KKE, outros votaram em branco ou anularam o boletim de voto (mais de 350 mil, 6%). Uma secção do povo trabalhador seguiu o caminho da abstenção.
O KKE não estabeleceu um objectivo numérico para este referendo, sua postura foi uma posição de princípio, enviar uma mensagem política ao povo para não se submeter a toda chantagem, a dilemas, quer tivessem origem na troika ou no governo ou nos outros partidos políticos burgueses.
Quarto. Em 6 de Julho, um dia após o referendo, os desenvolvimentos confirmaram da maneira mais característica as posições e a linha de luta do KKE e comprometeram os partidos no estrangeiro que celebraram em conjunto com o SYRIZA ou enviaram mensagens de apoio ao primeiro-ministro grego.
No dia seguinte ao referendo houve uma reunião dos líderes políticos por iniciativa do primeiro-ministro, Tsipras, com a participação do Presidente da República. Esta reunião tornou a situação ainda mais clara.
O SYRIZA, ANEL, ND, PASOK, POTAMI, isto é todo os partidos burgueses, assinaram uma declaração conjunta que entre outras coisas mencionava: "O veredicto recente do povo grego não constitui um mandato de ruptura, mas um mandato para continuar e fortalecer o esforço de alcançar um acordo socialmente justo e economicamente sustentável", confirmando que os partidos burgueses como um todo estavam prontos para assinar um acordo/novo memorando com a Troika contra o povo.
O secretário-geral do CC do KKE, camarada. Dimitris Koutsoumpas discordou, e tornou clara a sua posição diferente. Após a reunião dos líderes políticos declarou dentre outras coisas: "De nossa parte exprimimos claramente, mais uma vez, os pontos de vista do KKE quanto à avaliação do resultado do referendo e principalmente quanto aos enormes problemas que estão a ser experimentados pelo povo grego dentro da aliança predatória da UE, a qual tem uma linha política que agrava continuamente os impasses para o povo, o rendimento do povo, o curso do país e o curso do nosso povo como um todo.
Foi demonstrado, mais uma vez, que não pode haver negociações favoráveis ao povo e aos trabalhadores dentro dos muros da UE, dentro do caminho capitalista de desenvolvimento... Ninguém autorizou qualquer organismo a assinar novos memorandos, novas medidas para o nosso povo".
Quinto. Após o referendo o governo SYRIZA-ANEL enviou ao Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) um pedido para um programa de empréstimo por três anos no valor de cerca de 50 mil milhões de euros, com um novo acordo de empréstimo e um novo memorando.
Na sexta-feira 10 de Julho, o governo propôs à Troika (UE, BCE, FMI) um pacote provocador de duras medidas anti-povo com um 3º memorando no valor de mais de 12 mil milhões de euros! Isto quer dizer 4 a 5 mil milhões de euros a mais do que a proposta que estava a ser discutida antes do referendo.
No mesmo dia, na discussão no Parlamento, o governo pediu e recebeu o apoio e a autorização dos partidos burgueses, ND-PASOK-POTAMI, a fim de assinar o acordo anti-povo, o 3º memorando.
Enquanto isso, na madrugada de segunda-feira 13 de Julho, o primeiro-ministro Tsipras acordou na Cimeira da Eurozona um novo empréstimo no valor de 85 mil milhões de euros e um muito perigoso memorando anti-povo, o qual realmente esmagará qualquer coisa que tenha restado dos direitos do povo.
Aqui estão alguns exemplos característicos:
Manutenção do ENFIA, o imposto sobre a propriedade e outras duras medidas fiscais da ND e do PASOK que levaram milhões de famílias das camadas populares ao desespero e um aumento adicional das taxas de IVA, transferindo alimentos empacotados e outros ítens de consumo popular em massa para a taxa mais alta de 23%, abolição de isenções fiscais para agricultores, um aumento significativo do IVA para as ilhas, etc.
A propaganda do governo diz que aumentar impostos sobre grandes negócios e proprietários de navios não tem fundamento, que é uma gota no oceano. As isenções fiscais para os proprietários de navios e o grande capital como um todo estão a ser mantidas em vigor.
Manutenção das medidas contra a segurança social na sua totalidade, as quais reduzem pensões, aumentam a idade de reforma, isentam o patronato de contribuições para a segurança social e ademais a introdução de novas medidas que anulam o restante das reformas antecipadas estabelecendo uma única idade de reforma de 67 anos, abolindo os benefícios para pensionistas com pensões muitos baixas, aumentando as contribuições dos trabalhadores para a segurança social, fundindo fundos da segurança social com uma corrida para baixo em termos de direitos. Estão a ser examinadas duras medidas adicionais em nome da sustentabilidade do sistema de segurança social.
Manutenção das relações de trabalho "medievais" que prevalecem nos lugares de trabalho, congelamento de acordos colectivos, manutenção de salários reduzidos e também novas medidas adicionais anti-trabalhador em nome da adaptação às directivas da UE para a expansão de contratos individuais entre trabalhadores e patrões, reforço do trabalho em tempo parcial e temporário, relações de trabalho precárias.
Implementação da caixa de ferramentas da organização imperialista OCDE (a qual o governo considera ser um parceiro estratégico) que prevê a liberalização das profissões, a abolição dos feriados de domingo, etc.
Manutenção das privatizações que se efectuaram e a promoção de novas, nos portos, em 14 aeroportos regionais, nas ferrovias, na companhia que administra o gás natural, etc.
Criação de um mecanismo para hipotecar e vender a propriedade pública a fim de obter 50 mil milhões de Euros para reembolsar os empréstimos, etc.
Criação de excedentes primários de 1% em 2015, 2% em 2016, 3% em 2017, 3,5% em 2018 e a implementação de um mecanismo para automaticamente cortar salários, pensões, gastos sociais se houver divergência em relação aos objectivos orçamentais.
O governo SYRIZA-ANEL utilizou a chantagem e o dilema que a ND e o PASOK haviam utilizado a fim de pressionar o povo para aceitar as medidas: um novo memorando mais duro ou a bancarrota do estado através de um grexit?
Ele repete o mesmo dilema que foi apresentado por ocasião do primeiro e segundo memorandos e todas as vezes em que uma prestação estava a ser desembolsada. Toda a vez que o povo tem de escolher o mal "menor", no fim este acaba por levar ao mal maior.
Mesmo agora, quando a linha política anti-povo do SYRIZA está completamente evidente, Tsipras ainda tenta promover falsas expectativas, afirmando que o acordo inclui um ajustamento da dívida (a qual aumentou devido ao novo empréstimo) e aos chamados "pacotes de desenvolvimento". Apesar do facto de ser bem sabido que em qualquer caso o povo pagará pela dívida e que os pacotes serão mais uma vez destinados a grandes grupos monopolistas, os quais colherão grandes lucros.
Sexto. A linha política anti-povo do SYRIZA não se restringe apenas a estas questões mas exprime-se também na sua política externa.
O governo grego em cinco meses proporcionou apoio significativo à NATO, aos EUA, o eixo Euro-Atlântico.
Ele não só manteve como também assumiu compromissos para fortalecer as bases EUA-NATO em Suda, o centro de comando para intervenções e guerra imperialistas, Aktio (centro de radar) e também assumiu compromissos para fortalecer os centros de comando em Salónica, Larissa, etc.
O governo anunciou que em consulta com os EUA instalará uma nova base da NATO no Mar Egeu, na ilha de Carpatos.
O governo assumiu oficialmente o compromisso de disponibilizar suas forças armadas e bases militares para novas guerras imperialistas na região, a fim de enfrentar os jihadistas e "proteger as populações cristãs".
Ele participa em exercícios militares juntamente com os EUA e Israel e fortalece suas relações militares, políticas e económicas com o estado israelense que continua a ocupação e os tormentos do povo palestino.
A chamada "política multi-dimensional" com a Rússia e a China, com os BRICS, está a ser executada do ponto de vista do avanço dos interesses dos grupos monopolistas a fim de fortalecer suas posições no campo da energia, no quadro geral da competição imperialista, enredando nosso povo em novos perigos.
UMAS CONCLUSÕES
Os trabalhadores da Europa e de todo o mundo podem retirar importantes conclusões deste curso dos acontecimentos na Grécia a fim de condenar as forças políticas que defendem o caminho de desenvolvimento capitalista e a União Europeia, a união imperialista inter-estatal.
Os e as comunistas, os trabalhadores, têm que examinar os desenvolvimentos sobre a base dos dados reais.
Apreciar e valorizar a posição de dúzias de Partidos Comunistas que tentaram analisar os desenvolvimentos na Grécia com base em critérios de classe, mantiveram o princípio do internacionalismo proletário, contribuíram para apoiar luta do KKE, publicaram seus boletins de informação e entrevistas, escreveram seus próprios artigos e combateram contra a confusão semeada pelo SYRIZA e pelo Partido de Esquerda Europeu (PEE).
O KKE agradece às dúzias de partidos comunistas e organizações de juventude comunista de todo o mundo que exprimiram sua solidariedade de muitos modos diferentes e permaneceram ao lado da luta do nosso partido e da KNE (Juventude Comunista Grega).
Agradecemos aos trabalhadores e trabalhadoras, os sindicatos e outras organizações do movimento popular do estrangeiro que apoiam a luta do movimento com orientação de classe na Grécia.
Nosso partido continuará a travar lutas árduas e a honrar a vossa confiança.
Nas condições da forte pressão exercida pelo aparelho ideológico burguês e pela intervenção das forças oportunistas, a expressão em massa de solidariedade internacionalista é um elemento muito importante. Ela contribui para a nossa luta comum. Trata-se de uma experiência valiosa que frutificará no período seguinte.
Ao mesmo tempo, os comunistas e trabalhadores devem examinar cuidadosamente e condenar as forças oportunistas e todas as forças que durante todo este período ocultaram as posições do KKE e alinharam-se com o SYRIZA, embelezando a essência de classe anti-povo da sua linha política, seu carácter social-democrata.
O PEE desempenha um papel particularmente perigoso na manipulação dos trabalhadores. O Partido de Esquerda Europeu reconheceu a sua própria mutação estratégica rumo à gestão burguesa nas posições sociais-democratas do SYRIZA, as suas próprias posições favoráveis à assimilação dentro da UE.
Isto era expectável.
O grave problema refere-se a certos PCs que reproduziram as posições do SYRIZA, apresentaram-no como força de resistência contra a UE, ocultando o facto de que este partido é um defensor da aliança predatória da UE e da NATO, um administrador da barbárie do sistema capitalista.
Estas forças saudaram o "NÃO" do referendo mas ocultaram o facto de que por trás disto estava o SIM do SYRIZA a um novo memorando, novas medidas que continuarão a sangrar o nosso povo.
Elas desinformaram – intencionalmente ou não intencionalmente – os trabalhadores nos seus países. Ligaram a posição do governo grego à defesa da "soberania popular", mas a realidade demonstra que o povo não pode ser soberano quando está sitiado pela chantagem das forças do capital, quando está faminto, desempregado, vítima do capitalismo e dos capitalistas que mantêm o poder e possuem os meios de produção e roubam a riqueza produzida pelos trabalhadores.
A postura destes partidos objectivamente foi contra a luta do KKE e a expensas do interesse da classe operária, das camadas populares na Grécia e em todo país, porque apoiar a nova social-democracia significa fortalecer o adversário dos trabalhadores, promove ilusões e confusão.
Não há desculpa. Eles arcam com graves responsabilidades. Os partidos que ocultaram as posições do KKE, organizaram eventos para apoiar o SYRIZA e saudaram a social-democracia têm sido expostos.
Na pratica, as manifestações, como em Paris, Roma, Bruxelas, Nicósia, Lisboa e outras cidades, pouco importando quem as organizou e os slogans usados, foram utilizadas pelo SYRIZA como um álibi "de esquerda" para fortalecer a sua posição, para apresentar-se como um "salvador" e impor novas duras medidas anti-povo sobre os trabalhadores gregos.
Esta não é a primeira vez que falamos acerca destas questões. As consequências da influência oportunista nas fileiras do movimento comunista, consequências da contra-revolução, continuam a ser penosas.
Nosso partido, como é bem sabido, tem exprimido firmemente (durante muitos anos) sua solidariedade internacionalista com PCs que hoje se alinham com os seus oponentes políticos. O KKE segue uma posição de princípio e continuaremos a assim actuar.
Contudo, deve começar uma discussão no Movimento Comunista Europeu e Internacional acerca das escolhas de Partidos Comunistas que tomaram o lado da social-democracia e dela devem ser retiradas conclusões.
Quem quer que perca a bússola revolucionária de classe será levado a administrar o capitalismo, mesmo que o nome comunista seja mantido, mesmo que haja referências formais ao socialismo.
A experiência histórica revela isto e este é o problema para certos partidos que usam a calúnia do "sectarismo" a fim de incriminar a luta revolucionária, esconder o seu próprio recuo dos princípios do marxismo-leninismo e a sua opção por administrar o sistema burguês.
Os desenvolvimentos recentes trouxeram à tona questões sérias que devem ser discutidas ainda mais.
Os partidos sociais-democratas da variedade SYRIZA e Podemos trabalham para manipular a classe trabalhadora, salvaguardar a gestão capitalista com falsos slogans de esquerda.
Na prática, o exemplo do SYRIZA demonstra mais uma vez que os chamados "governos de esquerda" são uma forma de gestão e reprodução da exploração capitalista, que eles cultivam ilusões, desarmam as forças populares e levam ao fortalecimento de forças conservadoras, para o retorno de governos de direita. Os exemplos de "governos de esquerda" em França, Itália, Chipre, Dinamarca e países da América Latina confirmam esta avaliação.
A posição que apresenta a substituição do Euro por uma divisa nacional, a exemplo do dracma na Grécia, como um desenvolvimento a favor do povo, uma posição apoiada por vários grupos de ultra-esquerda e quadros do SYRIZA que no parlamento votaram contra o 3º memorando, obscurece a situação real para os trabalhadores. A [mudança de] divisa não pode por si própria resolver favoravelmente qualquer dos problemas do povo. A exploração capitalista continuará a dominar, bem como o factor que determina o curso dos desenvolvimentos, isto é, qual classe social tem o poder e os meios de produção nas suas mãos.
A tentativa de interpretar os desenvolvimentos com posições que apresentam a Grécia como sendo uma "colónia" não tem uma base objectiva. Ela omite os objectivos e interesses da burguesia, não toma em conta o desenvolvimento capitalista desigual e as relações desiguais entre estados capitalistas.
A continuada participação na NATO e na UE é a posição dominante na classe burguesa e as concessões de direitos soberanos são uma escolha consciente que objectiva reforçar o capitalismo e servir os interesses dos monopólios no interior de alianças imperialistas.
Centrar toda a atenção sobre a postura da Alemanha, a tentativa de interpretar os desenvolvimentos através do prisma do "golpe de Schauble" oculta a essência da competição inter-imperialista, dos interesses que estão envolvidos no conflito.
A escolha de aliados do governo SYRIZA-ANEL, exemplo: os EUA e a França, nada tem a ver com os interesses do povo mas sim com os interesses dos grupos monopolistas, enredando nosso povo ainda mais na teia da competição imperialista.
As recentes declarações de um quadro do SYRIZA e vice-presidente do governo são características. Ele fez a seguinte referência: "Tenho de agradecer publicamente ao governo dos EUA e ao Presidente Obama pois sem a sua ajuda e persistência em que o acordo tem de incluir a questão da dívida e o horizonte de desenvolvimento poderíamos não ter tido êxito".
A LUTA DO KKE
O KKE avançou em frente, tendo enriquecido sua estratégia na base das exigências contemporâneas da luta de classe, ultrapassando a teoria respeitante a "etapas intermediárias" na gestão do sistema explorador e as diferentes formas para a manutenção da democracia burguesa, defendendo as lei da revolução e construção socialista.
Nosso partido utilizou a linha de luta anti-capitalista – anti-monopolista, a linha para a concentração e preparação da classe trabalhadora e forças populares para o derrube do capitalismo, para o poder dos trabalhadores e do povo, o socialismo, rejeitando a cooperação com o partido social-democrata SYRIZA e qualquer participação em governos de gestão burguesa.
Ele deu uma resposta decisiva nas eleições de 2012, continuando em condições difíceis sua luta político-ideológica e de massa independentes, com as necessidades das famílias da classe trabalhadora e estratos populares como seu critério.
Ele travou a batalha das eleições em 2015, aumentou suas forças e utiliza seu grupo parlamentar de 15 membros para destacar os problemas do povo, apresentando importantes projectos e propostas de lei, como o projecto de lei para a abolição do memorando e das leis de aplicação as quais o governo desde há cinco meses tem-se recusado a discutir no Parlamento.
Ele utiliza o seu grupo parlamentar na UE ao lado dos trabalhadores, alcançando um novo nível nas suas intervenções políticas significativas após a sua retirada do GUE/NGL, o qual foi transformado num apêndice do PEE.
A orgulhosa posição do KKE no referendo recente é uma continuação desta luta política. Esta posição revelou a linha política anti-povo do governo SYRIZA-ANEL, da Troika e dos partidos políticos burgueses que apoiam a permanência na UE "a qualquer custo", apresentando sua própria proposta ao povo.
Nosso partido intervém decisivamente nos desenvolvimentos políticos, combate contra dificuldades e deficiências e trabalha incansavelmente nos lugares de trabalho, no interior do movimento trabalhista e popular, desempenha o papel principal nas lutas da classe trabalhadora, dos agricultores, dos estratos intermediários, da juventude. Ele continua sua actividade internacionalista, fortalece suas relações com dúzias de PCs de todo o mundo e tenta discutir sua experiência com os comunistas e as principais forças da classe trabalhadora no exterior.
Estes deveres são muito sérios. O KKE centra-se em organizar a resistência dos trabalhadores contra o acordo anti-povo do governo SYRIZA-ANEL, de modo a que o nível das exigências populares seja elevado e de que se desenvolva um movimento militante para exigir de um modo maciço a recuperação das perdas e a satisfação das necessidades contemporâneas.
O movimento com orientação de classe, PAME, e os demais agrupamentos militantes estão a escalar as mobilizações de massa, estão a fazer esforços para organizar um movimento de solidariedade para apoiar aqueles que estão a sofrer devido ao desemprego e à pobreza, para apoiar os pensionistas, os trabalhadores que estão de pé nas filas junto aos bancos para receberem uma pequena parte da sua pensão ou salário devido às restrições sobre transacções bancárias.
Através de comités de luta nos lugares de trabalho, fábricas, hospitais, supermercados, serviços, através da mobilização dos "comités populares" nos bairros.
Estas são ferramentas valiosas para o fortalecimento da luta popular.
Continuaremos neste caminho e apelamos à classe trabalhadora, aos estratos populares, a adoptarem em massa e de modo decisivo a proposta política do KKE para a melhor organização possível dos trabalhadores, para o reagrupamento do movimento trabalhista, para o fortalecimento da aliança popular da classe trabalhadora com os agricultores, os outros estratos populares a fim de intensificar a luta por mudanças radicais profundas. Para a socialização dos monopólios, com planeamento científico central da economia, desligamento da UE-NATO e o desenvolvimento de relações mutuamente benéficas com outros estados e povos, com o cancelamento unilateral da dívida, com a classe trabalhadora e o povo segurando as rédeas do poder.